sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

O QUE DIZER DO CAFEZINHO??

Cada vez mais pesquisas mostram que ele é capaz de fazer bem. Tomá-lo moderadamente pode afastar até a depressão
No século XVIII, quando o café conquistou fama, os intelectuais se reuniam para falar de literatura, artes e política embalados por goles da bebida quente.
Nas últimas décadas, porém, foram jogadas várias acusações nessa xícara. Resultado: preocupada, muita gente só não resiste ao aroma dos grãos torrados quando precisa espantar o sono.
Uma pena… Embora continuem aparecendo opiniões contrárias ao consumo desenfreado desse símbolo nacional, cada vez mais pesquisadores botam a colher na briga e defendem os benefícios da infusão.
Um trabalho concluído no final de 2000 acompanhou 100 mil jovens de todo o Brasil durante 10 anos e constatou uma incidência menor de depressão e de dependência química entre quem tomava um cafezinho todo santo dia.
Depois de passar pelo filtro dos cientistas, componentes que ainda não estão na boca do povo - como os ácidos clorogênicos - se mostraram tão importantes para os efeitos positivos quanto a polêmica cafeína.
Veja o que vai dentro de uma xícara de cafezinho
Nela cabe o volume de 50 mililitros de café. Veja seus componentes
De 1% a 2% de cafeína, notório estimulante do sistema nervoso.
De 13% a 20% de lipídios, onde se dissolvem os mais de 1 mil compostos que criam o aroma.
De 6% a 12% de aminoácidos, responsáveis pela cor escura.
De 7% a 39% de açúcares, que dão um toque especial ao sabor.
De 8% a 10% de taninos, que interferem no gosto e na cor.
Entre 3% e 4% de minerais, que participam de várias funções no corpo.
Cerca de 1% de ácidos alifáticos, os quais conferem sabor ácido.
De 7% a 10% de ácidos clorogênicos, substâncias investigadas porque interferem no humor.
ATENÇÃO: o teor das substâncias varia conforme o processamento.
A suspeita é de que a bebida evite o mal de Parkinson
O velho hábito de oferecer café com leite para a garotada - ironicamente fora de moda no país que tem a maior produção desse fruto - bem que poderia voltar às mesas brasileiras.
Essa é a opinião de um dos maiores estudiosos do assunto no país, o médico Darcy Lima, do Instituto de Neurologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Ele é o responsável pela pesquisa que avaliou o consumo de café entre estudantes brasileiros durante toda a década de 1990. "Misturada ao leite, a bebida fica nutritiva e as propriedades não são alteradas", observa.
Satisfação garantida
A ciência ainda não responde tintim por tintim como o café atua na massa cinzenta. As evidências de que ajudaria a afastar a depressão, o alcoolismo e a dependência de drogas parecem não estar ligadas à cafeína, e sim à ação dos tais ácidos clorogênicos no sistema límbico.
Ali suas moléculas parecem se encaixar como chaves mestras em receptores denominados opióides. "Ao ser ativados pelas drogas, eles produzem sensações de prazer e saciedade", explica Darcy Lima. "Quando estão bloqueados, parece haver uma diminuição da vontade de se entregar ao vício." Outra pesquisa bastante badalada no ano 2000 analisou 8 mil indivíduos entre 45 e 68 anos nos Estados Unidos.
Publicada no jornal da Associação Médica Americana, ela indica um risco bem menor de desenvolver o mal de Parkinson para quem bebe, no mínimo, três cafezinhos diários.
Ninguém em sã consciência defende o consumo exagerado
Às vezes, porém, é preciso abrir mão de um cafezinho - talvez seja o caso das futuras mamães, considerando-se um novo estudo sueco. Segundo ele, a cafeína presente em quatro xícaras pequenas é capaz de dobrar as chances de aborto.
Mas os próprios médicos dizem que ainda é cedo para fazer alarde: "Um único trabalho não pode ser conclusivo", opina o ginecologista e obstetra Alcides Vara, da Maternidade Santa Joana, em São Paulo. Para ele, bebericar dois ou três cafezinhos diariamente pode até melhorar o astral das gestantes. Uma coisa é certa: café demais pode atrapalhar a formação dos dentes no feto. Uma grávida jamais pode abusar desse prazer.
Coração na mira
O café também sustenta a fama de aumentar os riscos de infarto. Para conferir se isso não passa de mito, a Federação Mundial de Cardiologia vai iniciar um estudo com 40 mil pessoas de vários países. Elas serão divididas em dois grupos: o dos fãs da bebida e o daqueles que a excluem do dia-a-dia.
"Queremos saber qual é a turma com maior propensão para males cardíacos", explica o médico Mário Maranhão, presidente da entidade. Não é tão simples assim. Se café demais causa insônia, nervosismo, pode elevar a pressão e o colesterol, goles moderados agem no sentido inverso, melhorando o humor e a disposição - nesse aspecto o coração deve agradecer.
Cuidados ao ingerir o cafezinho
Alguns cuidados podem acrescentar saúde ao momento de saborear o cafezinho. Até hoje ninguém conseguiu comprovar que essa bebida causa gastrite. No entanto, ao alcançar o estômago ela estimula os ácidos gástricos e pode provocar dor.
"Por isso nunca é bom tomá-la de barriga vazia", adverte o gastroenterologista Jaime Eisig, do Hospital das Clínicas de São Paulo. Além disso, em razão de seu poder estimulante, o café deve ser abolido à noite. Ou a briga com o sono será certa.
Segredos de coador
O que pode interferir no sabor da bebida
Mistura
O blend é a combinação de vários grãos para se obter pós diferenciados. Os grãos mais usados são o arábica e o robusta. O primeiro é famoso pelo sabor. Já o segundo deixa o líquido forte e encorpado. Lembre-se disso e analise as proporções na hora da escolha.
AO Gosto do frequês
O cafezinho à brasileira é tão concentrado que acaba com 1% de cafeína. Isso é cerca de três vezes mais do que a gente encontra no aguado café servido em caneca nos Estados Unidos.
Herança da terra
Nesse aspecto o grão de café se parece com a uva que dá origem ao vinho. Conforme o clima, o solo e a altitude, o produto final pode ficar mais adocicado ou mais ácido.
Na sua casa
Não deixe o café guardado no armário junto com outros alimentos. Mal agasalhado, ele absorve odores alheios. O ideal é colocar a embalagem dentro de um pote bem fechado guardado na geladeira.
Tatiana Ferreira

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