segunda-feira, 30 de agosto de 2010

NOVOS CONCEITOS E ADAPTAÇÕES!!




De hoje até sábado, acontecem no Rio de Janeiro duas feiras voltadas para o exercício físico e o bem-estar: a Rio Sports Show, que está na 12ª edição, e a Wellness 2010, que inaugurou ano passado. Ambas se privilegiam da cultura esportiva da cidade maravilhosa para promover o fitness, que já é vocação do carioca e todo mundo já conhece, e o tal wellness, que é um pouco mais recente e um pouco mais difícil de definir.

Fitness pode ser traduzido como a qualidade de caber, uma espécie de adequação a uma determinada exigência. Neste caso, a exigência da beleza física.

No conceito de malhação difundido de Jane Fonda para cá, fitness é a virtude de quem busca a boa forma física por meio da ginástica e dos exercícios aeróbios praticados religiosamente várias vezes por semana.

A pessoa “fit”, com isso, conquista (ou busca incansavelmente) um corpo magro, com musculatura aparente e um coração forte. Quem não quer?

Então foi em cima desse atraente conceito de fitness que as academias de ginástica cavaram seu espaço nos anos 80 e 90. A ordem era malhar, suar muito, emagrecer e exibir o corpão num maiô. Celebridades que não fossem malhadas passaram a ter menos chance de virar capa de revista. Todo mundo queria ser malhado. Só que para isso era preciso malhar.

E foi aí que se descobriu um grande problema. Nem todo mundo que se matriculava na academia gostava de malhar. As pessoas se deixavam levar pelas promessas do corpão, pagavam o plano de seis meses, se empolgavam com os primeiros resultados (ou só com as promessas mesmo) e depois de um tempo desapareciam das salas de ginástica. Ou da musculação. Ninguém sabia direito o motivo da desistência, e isso começou a ser estudado.

O mistério permanece, com hipóteses que mexem fundo com a nossa psicologia e nenhuma conclusão definitiva e universal.

As academias continuam de pé, mas constantemente estudando maneiras de não deixar a clientela ir embora. E também de atrair gente que não se identifica com a ginástica na frente do espelho pra ver se o bíceps está crescendo.

Foi quando começaram a incluir atividades de “wellness”, ou bem-estar. Alguém se deu conta de que os idosos não precisavam ficar sarados, mas sim de uma atividade física que os mantivesse saudáveis.

E também se deram conta de que os adultos mais jovens queriam chegar à terceira idade saudáveis e chegar em casa um pouco menos estressados, e passaram a oferecer exercícios mais preventivos e menos agressivos que o levantamento de peso.

Aí o pessoal da ioga passou a ser convidado para dar aulas nas academias de fitness, e ficou tudo misturado.

Trouxeram versões vigorosas de ioga pro pessoal malhar e relaxar na mesma aula, o que alguns consideravam paradoxal e inadequado para o ambiente da academia.

E aí também descobriram que o Pilates, um tipo diferente de ginástica que havia sido inventado antes da Jane Fonda, era uma opção sensacional para quem buscava o tal do wellness. Hoje todo mundo quer ficar bonito fazendo Pilates.

A feira Wellness 2010 não abandona o conceito de fitness. Estarão lá, dando palestras, educadores físicos que trabalham com fitness faz tempo, mas que não pararam nos anos 90. Estão todos procurando entender o que é que o cidadão dos anos 2000 quer em matéria de atividade física.

Pilates e Treinamento Funcional são as apostas das academias do momento. Todo professor de academia agora percebe que precisa aprender a trabalhar com Funcional pra não ficar para trás, e me disseram que a encomenda de equipamentos para Pilates cresceu tanto que os fabricantes não dão conta da demanda.

A diferença é que Pilates e Treinamento Funcional não prometem deixar você sarado. Eles prometem ensinar você a se mexer direito, e de uma maneira mais gratificante, que inclusive ajuda na hora de malhar ou de fazer esporte. O resultado seria um corpo “mais inteligente”. E é isso que eles estão chamando de atividades para o bem-estar.

Só que com isso apareceu um outro problema: o resultado é mais difícil de medir.

O cara que quer ficar sarado, ou simplesmente perder um pouco de peso, passa por avaliações físicas periódicas que o ajudam a monitorar seu rendimento e perseguir suas metas.

Essas avaliações calculam a quantidade de gordura e de músculo que ele tem no corpo, contam os batimentos cardíacos que ele alcança durante um exercício, medem as circunferências de partes do tronco e dos membros.

É bastante matemático, portanto. ‘Quer perder quanto?’ ‘Você ganhou dois centímetros de coxa e perdeu três de barriga. Vá comemorar.’

Mas o que fazer com o cidadão que está com o coração forte, uma resistência muscular bem bacana, um corpinho lindo e ainda assim quer fazer alguma atividade física prazeroza?

Ou com o cara que está um pouco acima do peso, mas com a saúde boa, e não faz a menor questão de ficar com abdome de tanquinho? Se a pessoa entra na academia buscando bem-estar, a avaliação deve medir o quê?

Segundo Mário Pozzi, que vai falar de avaliação física na feira Wellness Rio 2010, esse cliente dos anos 2000 precisa ser avaliado por outros parâmetros.

Além de ser medido dos pés à cabeça, ele deverá responder questionários com perguntas sobre estresse e vontade de se envolver em atividades, e ainda passar por exames laboratoriais mais detalhados para monitorar os efeitos do estresse no organismo e eventuais fatores de risco para doenças.

Ainda não sabemos se a nova avaliação será capaz de mostrar que tipo de atividade física vai deixar esse cliente satisfeito no longo prazo. Não dá ainda para dizer que conseguir resultados de bem-estar vai manter essa pessoa matriculada e efetivamente frequentando a academia. Nem dá para dizer que é ali, na academia, que a pessoa vai encontrar o que ela está procurando.

A atividade física é, sim, um dos caminhos para buscar bem-estar, desde que você perceba no seu corpo alguma fonte de mal-estar ligada ao ato de ficar parado. Do contrário, bem-estar (ainda que momentâneo) pode ser continuar comendo sentado no sofá, certo?

No fim das contas, é a necessidade das pessoas que vai dizer o que é bem-estar e o que não é, que atividades físicas satisfazem e quais não.

E a questão passa a ser o que as pessoas conseguem perceber como sendo uma necessidade. Será que ficar sarado, emagrecer ou ficar forte é a necessidade real desse cliente? Será que fazer uma maratona é uma necessidade de todo mundo que gosta de correr?

Será que perder aquele restinho de barriga é a necessidade da aluna nova? Será que ficar mais calmo é a verdadeira necessidade do homem moderno? Ou ganhar flexibilidade? Ou endireitar a coluna?

Ou conseguir subir de novo naquela árvore? Ou brincar com os netos sem sentir dor? Ou fazer novos amigos? Ou perder o medo da água?

Qual é a sua necessidade, de verdade?

por Francine Lima Fonte: Revista Época.com

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