terça-feira, 11 de maio de 2010

SALVAÇÃO NA NATAÇÃO

Musculação vira salvação para ausência dos supermaiôs na natação

“Perdi cinco quilos de gordura. Ganhei em músculos. É preciso fazer muita força agora que o traje não ajuda mais a manter o corpo em cima”. A frase é do vice-campeão mundial Felipe França. E mostra como os nadadores estão encarando a nova era da natação mundial, sem os supermaiôs que impulsionaram mais de 100 recordes mundiais no ano passado e estão banidos das piscinas desde 1º de janeiro.

Segundo todos consultados pela reportagem do UOL Esporte, os trajes de poliuretano representavam ganho de flutuabilidade aos nadadores. Quem se beneficiava mais eram os nadadores mais fortes e pesados, que não precisavam fazer tanta força para ficar na superfície. “Para alguns atletas, o traje representava aquela diferença entre um tempo muito bom e um recorde mundial”, explica Alberto Silva, o Albertinho, técnico do Pinheiros.

Para contra-balancear esse efeito, os nadadores enfrentaram duas alternativas: ficar mais leves ou ficar mais fortes. Para Felipe França, a segunda alternativa foi a escolhida. “Fizemos uma preparação diferente, para segurar aquele corpo dele em cima na água. Ele vai ter de fazer mais força do que todo mundo”, diz Arílson Soares, técnico do vice-campeão mundial.

Outros, como o também peitista Tales Cerdeira, apostaram no peso. “Eu sempre fui muito leve e os trajes não influenciavam tanto. Prova disso é o tempo que fiz aqui”, fala o nadador, que em Santos fez a quinta melhor marca do mundo em 2010 nos 200m peito (2min10s91).

Nos EUA, a regra também é apostar nos músculos. Que o digam os novos companheiros de Cesar Cielo em Auburn, Nicholas Santos e Henrique Barbosa. Os dois passaram o primeiro semestre treinando por lá e tiveram o gostinho da preparação que fez Cielo conquistar o ouro olímpico e dois títulos mundiais.

“O treino na água é intenso, mas muito curto. Não nado mais do que 4 mil metros por dia, mas a musculação é muito puxada. Bem mais do que aqui”, conta Nicholas. “É um trabalho muito intenso. Muito mais musculação do que eu fazia em Paris ou no Pinheiros”, completa Henrique.

“É bom ter essa mudança drástica. Não adiantaria trocar seis por meia dúzia. Mas a adaptação está custando caro”, continua Henrique. “Com muita musculação, você tem de aprender a nadar como se estivesse descansado mesmo com o corpo pesado de tanto fazer força. Não é fácil”.

Até agora, o Troféu Maria Lenk, que vai até domingo em Santos, mostrou que os trajes tiveram uma influência muito grande nos tempos registrados no ano passado. Em três dias de competições, só um recorde foi quebrado, a marca do campeonato dos 200m costas – batida pelo austríaco Markus Rogan. No ano passado, a maioria das provas teve recordes sul-americanos superados.

MENTOR DE CIELO DIZ QUE TEMPOS NO PAN-PACÍFICO VÃO SURPREENDER

Alberto Silva, o Albertinho, técnico que trabalhou com Cesar Cielo até a ida do nadador para os EUA, foi contra a proibição dos trajes tecnológicos. Segundo ele, a Fina (Federação Internacional de Natação) não teve paciência para esperar a estabilização dos tempos pós-supermaiôs.

“Eu sempre fui a favor do avanço tecnológico e dos trajes. Todos tiveram pouca paciência com a nova situação. Mesmo com os maiôs, o número de recordes ia cair muito nesse ano. A situação iria se estabilizar, como era antes de 2008. Ninguém é super-homem. O efeito dos trajes vai até certo ponto, a partir daí, é efeito humano. A gente andou para trás”, opina o treinador.

“É um balde de água fria para natação. Mas acho que isso também é temporário. Tem muita gente que vai nadar próximo dos tempos das Olimpíadas já no Pan-Pacífico. Para alguns atletas, o traje fazia a diferença para bater o recorde. Mas mesmo esses nadadores já estavam muito à frente de quem era recordista anteriormente.

Falam muito do recorde do Popov, mas na minha opinião, esse recorde já teria caído há dois anos, com traje ou sem traje. Sou fã do Popov, acho que é um dos maiores de todos os tempos. Mas esse recorde (dos 50m livre, que foi a melhor marca da história por oito anos) é um mito que foi criado”, completa o treinador.

Fonte: Uol.com.br - por Bruno Doro

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